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Dicas de como manter a saúde mental durante a pandemia

Por Josiane Calegari

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10 de junho de 2020

Uma pandemia geralmente resulta em medos, sensação de perda do controle diante do momento incerto (impotência), estresse, preocupação, estado de alerta, ansiedade exacerbada, angústia, desamparo, tédio. Pessoas que estejam passando por uma pandemia, de acordo com o grau de vulnerabilidade em que se encontram no momento, podem vivenciar alguma manifestação psicopatológica, sendo necessário que haja intervenção de cuidado específico.

Nem todos problemas psicológicos resultantes dessa situação anormal são classificados como doenças; muitos serão qualificados como reações normais ao momento vivido. É importante que os sintomas e as reações considerados normais não venham a se tornar crônicos.

A pandemia do novo coronavírus tem impactado amplamente a humanidade e repercutido na saúde mental e no bem-estar psicológico tanto dos profissionais da saúde quanto da população em geral. O medo se revela com várias facetas: adoecer; morrer; ente amado vir a morrer; finanças ruírem; ser excluído (até de contato telefônico ou on-line) por estar com a doença, bem como após estar curado; ser estigmatizado por ser profissional da área de saúde; necessitar ficar isolado (da família) em um cômodo da casa ou em um hospital; transmitir a covid-19 a outras pessoas; ter incertezas do que acontecerá.

É preciso que a pessoa identifique quais são os motivos de seus medos, a fim de que possa lidar com eles, não perder o controle e ser capaz de verificar quais são os fatores capazes de solucioná-los.

Podem ocorrer outras reações no comportamento, tais como pensamentos persistentes sobre a Covid-19; conflitos com outras pessoas (equipe de trabalho, familiares…); distúrbio do sono (recorrentes pesadelos, excesso de sono, insônia); alteração do apetite: falta ou excesso (às vezes a pessoa esquece de se alimentar); sentir os sintomas da Covid-19 pelo fato de se encontrar extremamente abalada.

Há crianças que ficam vulneráveis em uma situação de crise como tem sido esta pandemia. A quarentena rompeu aquele que era seu mundo familiar e seguro (rotinas, pessoas, lugares). É necessário investir atenção e tempo; propiciar momentos de brincadeiras, descontração; manter rotinas; responder (com simplicidade e clareza) sobre a Covid-19 mediante suas perguntas; observar e perceber quais são os sentimentos que estão vivenciando neste momento, bem como ouvi-las; ser paciente se seu comportamento for modificado (regredido, agitado…).

Muitos idosos, neste período de isolamento social, demandam disponibilidade de presença, tempo, atenção, paciência para conseguir elaborar as sensações de solidão, abandono/esquecimento, inutilidade, vulnerabilidade, sobrecarga para terceiros. Muitos já se encontravam isolados antes da pandemia e se veem diante de um isolamento ainda maior do que vivenciaram. Correm risco de se sentirem depressivos e solitários.

Os profissionais de saúde que atendem pacientes que sofrem de Covid-19 passam por fatores estressantes que vão além dos já vivenciados por eles nos serviços de saúde em geral. Se sentir sob pressão e sobrecarregado é comum. A tensão constante vem do medo de ser contaminados. Há hospitais em que vários funcionários foram afastados com diagnóstico da doença ou estão aguardando o resultado do teste. É imprescindível cuidar da saúde mental e da física.

Alguns fatores de risco geram sofrimento psíquico nesses profissionais, tais como:

• Medo do trabalho executado e consequentemente de transmitir a doença a familiares;
• Estigmatização por trabalhar com pacientes com covid-19 (alguns são hostilizados ou evitados
por familiares, conhecidos ou estranhos);
• Luto pela perda de pessoas conhecidas e de colegas de trabalho;
• Supervigilância constante e estado de alerta;
• Necessidade de se ajustar às novas formas de trabalho;
• Movimentação física restrita pelo equipamento;
• Frustração por não ser possível resolver todos os problemas do sistema de saúde e dos
pacientes.

Em situação de pandemia é necessário que as pessoas empreguem estratégias de cuidados
psíquicos próprios para este momento:

– Saber quais são seus limites, medos, angústias. 
– Prestar atenção em si mesmo e observar se está em boas condições emocionais e físicas.
– Quando necessário, conversar a esse respeito com pessoa de confiança e capacitada para entender, acolher e ajudar a haver enfrentamento, reenquadramento de projetos e não adoecimento ou fuga;
– Aproveitar o tempo de convivência com as pessoas de casa para interagir através de conversa, lazer, atividades em conjunto; isto diminui a possibilidade de conflito e tensão;
– Manter contato telefônico ou on-line com sua rede socioafetiva (familiares, amigos, conhecidos) é fundamental, pois dão sensação de proximidade;
– Evitar o excesso de notícias caso aumentem a sensação de angústia, incerteza, ansiedade, desamparo e preocupação;
– Divulgar informações positivas e imagens de pessoas que se recuperaram da doença, traz esperança;  
– Ser solidário às pessoas, promovendo apoio e união mútua;
– Ter rotina diária, planejar o que irá fazer é importante. É uma ferramenta de combate ao estresse. Dá sensação de retomada do controle da situação;
– Investir em práticas (religiosa, espiritual, intelectual, terapêutica) que contribuam para fortalecer a confiança em si mesmo levando a um enfrentamento saudável deste período;
– Aproveitar para praticar ações que goste, que relaxe: ler, escrever, assistir TV, games, ouvir/tocar/compor música, conversar, organizar/arrumar coisas…
– Descansar o suficiente é fundamental, assim como procurar alimentar-se de maneira saudável.
– Praticar exercícios físicos combate o surgimento de sintomas de ansiedade e depressão, elevar a capacidade de resiliência e contribui na manutenção da saúde.
– Evitar o uso de álcool e outras drogas;
– Procurar um profissional de saúde mental (psicólogo, psiquiatra) ou um grupo de apoio especializado on-line quando suas estratégias não forem suficientes para haver estabilidade emocional.

Diante desta situação de crise, por pior que seja, é importante ter consciência de que isto passará. Suas marcas ficarão registradas na humanidade, porém irá passar. É preciso ter esperança! Não existe uma resposta pronta para a pandemia. Assim como o ser humano não é dotado de superpoderes, no entanto tem seus próprios recursos e estratégias. Deve empregá-los para enfrentar este momento crítico de maneira sensata e procurar reconstruir seu caminho na sociedade.